Oração e canto na liturgia – 3ª Parte
3º. Uma aproximação antropológica da oração é também dada pelo sentimento de estupor que nasce nas pessoas quando se encontram diante de algo inesperado ou grandioso, a ponto de superar todo desejo ou capacidade de compreensão. É o “tremendum”, o fascinante e terrível, do qual falam os estudiosos da religião e do qual deriva o sentido da pequenez humana, mas também a adoração grata pela potência divina.
A fé bíblica é percepção do “mistério” de Deus que se atua, como salvação pessoal e como libertação social, na vida do crente e do povo. A linguagem cristã define como “mistério” cada intervenção salvadora divina na história e usa o mesmo termo para designar a ação litúrgico-sacramental que, ao fazer “memória” delas, as dispõe novamente na assembleia celebrante.
Diante do divino que se manifesta como salvação, o crente bíblico contempla a bondade misericordiosa do Criador e Salvador. A sua resposta é de admiração e entusiasmo, louvando e bendizendo (eulogia) o Deus potente e fiel, e rendendo-lhe graças (eucharistia) por conduzir a história ao cumprimento.
A “memória” das ações de Deus, na proclamação da Palavra e nas celebrações sacramentais, garante aos fiéis a doação da salvação ainda hoje. Isto suscita nos fiéis e nas assembleias litúrgicas um grato reconhecimento expresso pelo louvor, pelo bendizer e pela ação de graças.
A oração como resposta de admiração e estupor diante das ações salvíficas de Deus.