Uma ritualidade autêntica e significativa – 6ª Parte
6º- Convém exemplificar o que se entende por autenticidade antropológica e cultural de um rito, para habituar o grupo litúrgico a esta análise e impedir o desgaste cerimonial das celebrações. A Liturgia da Palavra, celebrada em nossas assembleias, é uma forma ritualizada de um grupo de pessoas reunidas para ouvir a leitura de um documento que lhe diz respeito. Todos estão interessados em compreendê-lo bem, pois lhes traz consequências concretas
Imaginemos um grupo de parentes em uma sala de cartório para ouvir a leitura de um testamento. Se o encarregado da leitura lê baixo ou incorretamente, não se fazendo ouvir e entender, qualquer um dos presentes protesta, pedindo que fale mais alto e claro. Isto não ocorre em nossas assembleias. Será porque o texto bíblico, o Testamento da Aliança, interessa menos que um testamento?
Deve-se considerar que o contexto é inteiramente outro. Uma celebração não condiz com observações individuais e públicas. Por isso mesmo, será muito oportuno o grupo litúrgico se manifestar na revisão ou, principalmente, na preparação da celebração, se há necessidade de esclarecer uma afirmação ou de interpretar uma frase obscura. Este tipo de ajuda, em clima fraterno e com discernimento pertinente, contribuirá muito para o presidente conduzir a celebração com mais objetividade e clareza. Pois, infelizmente, muitos fiéis se habituaram a aceitar, passivamente, a incompreensão das leituras bíblicas, das homilias, dos gestos e das aclamações que as acompanham.
Que sentido há em responder – “Demos graças a Deus” -, se de fato nada foi percebido para se estar grato a nosso Deus, que nos quer falar. Dá a impressão que, em certas ocasiões não se consegue nem mesmo fazer com que o texto bíblico seja entendido pelos presentes. Este exemplo nos ajuda a compreender quando uma Liturgia da Palavra pode ser definida como “autêntica”. Dado que a sacramentalidade é a base na qual se desenvolve a celebração, se o sinal posto não é autêntico antropologicamente, ele não resulta, de modo pleno, significativo e comunicativo da iniciativa divina. Isto explica a esterilidade espiritual de muitas celebrações, devido à sua falta de significado ao nível de sinal ritual.
Um exemplo de quando um sinal sacramental é ritualmente autêntico.
