Oração e canto na liturgia – 2ª Parte
2º. Convém também compreender a oração do ponto de vista antropológico, isto é, do modo de ser humano, considerando um aspecto que ajuda a compreender o sentido e o movimento da oração cristã e litúrgica. Há uma força potente que age nas pessoas e as impulsiona: é o desejo, seja em relação às coisas (posse), seja em relação às pessoas (comunicação). O desejo, abandonado a si mesmo, pode tornar-se agressão violenta, apropriação egocêntrica, utilização dos outros. Ao contrário, se é controlado e regrado, ele desabrocha em empenho construtivo e em relação personalizante.
Em seu manifestar-se, o desejo percebe, para além das coisas e das pessoas, algo de inefável, de inexprimível e de oculto. É o que as religiões genericamente chamam de “sagrado”, exigindo que o desejo seja orientado em sentido construtivo. A expressão vocal religiosa de tal orientação é a oração: agradece, quando o desejo bom é satisfeito e invoca, quando o desejo bom busca realização.
Em consequência, na oração cristã, os impulsos do desejo se orientam ao que parece ser, numa concreta situação e para uma determinada pessoa, a vontade de Deus.
A oração como orientação na fé do desejo profundo que nos faz viver.