Oração e Canto na Liturgia – 1ª Parte
Para compreender melhor a articulação ritual da Liturgia da Palavra e para entender o sentido da Oração Eucarística, elemento essencial da Liturgia Eucarística, é necessário refletir sobre o sentido e as fórmulas da oração cristã. Esta tem várias modalidades expressivas: daquela silenciosa que se desenvolve na interioridade de cada um, àquela vocal que pode ser individual ou coletiva. Esta última é própria da assembleia litúrgica e, às vezes, assume uma expressão cantada.
Por este motivo, neste capítulo é tratado também o canto na liturgia, sobretudo na missa, dado que a expressão musical é própria da celebração comunitária.
a) A oração bíblico-litúrgica como resposta a Deus que fala por primeiro
Ao contrário do que se pensa, a oração cristã não parte de uma situação de necessidade (oração de súplica ou de pedido) ou de uma experiência realizadora e agradável (oração de louvor ou de bendizer), mas sim da palavra de Deus que, por primeiro, inicia um diálogo. Tal Palavra alcança, silenciosamente, o crente, no momento de necessidade, assegurando-lhe proteção e salvação na adversidade; ou, revela ao crente que na fonte daquela alegria realizadora está o Senhor que se manifesta em sua vida. A familiaridade com a palavra de Deus conduz o crente a viver com tal “mentalidade de fé”, de modo que, nas várias situações, ele conheça a palavra que Deus lhe dirige e, portanto, fique em condição de responder adequadamente.
O crente bíblico é aquele que se põe diante de Deus como orante, nas circunstâncias difíceis ou alegres da existência, e lhe implora ajuda e salvação ou lhe manifesta reconhecimento ou louvor. Ao ler os salmos e algumas fórmulas orantes do Novo Testamento, vemos claramente que a oração tem um duplo movimento: invocação e ação de graças.
A terminologia para as funções das orações é muito rica e variada, mas as direções são bem precisas, mesmo que, nas fórmulas, haja momentos de pedidos enxertados nas expressões de louvor e de glorificação.
Vejamos duas orações bem conhecidas de todos e que são simples e fundamentais: o “Pai nosso” e a “Ave-Maria”.
Jesus ensina a sua oração aos discípulos (Mt 6,9-13), depois de lhes ter anunciado o Reino de Deus e de lhes ter falado da vontade do seu Pai para com aqueles que se tornarão, n’Ele, seus filhos. Esta catequese preliminar desvela o sentido da prece.
A “Ave-Maria” contém, em sua primeira parte, os anúncios que Maria escutou do Anjo e da sua prima Isabel: é na base de tal Palavra, sempre atual, que dirigimos à Mãe do Senhor, a “bendita” por excelência, a invocação da segunda parte da oração: “Santa Maria”.
Este modo de entender a oração cristã como originária da Palavra de Deus, deu origem àquela forma particular do culto judeu-cristão, que é a Liturgia da Palavra: à leitura de uma passagem das Escrituras, ouvida e atualizada, a assembleia responde com agradecimento (ação de graças) e com súplica (invocação).
O “Pai nosso” e a “Ave-Maria” como resposta à Palavra que se admite divina.